uma menina vai a escola. uma menina na escola leva uma bala na cabeça. essa agora é a historia dos últimos momentos de vida da menina. o corpo da menina cai, no meio da educação física. a menina já está em outro lugar. os parentes e vizinhos da menina fazem um protesto em frente a escola. a escola fica em uma avenida chamada avenida brasil. as pessoas que moram no mesmo bairro que a menina fecham a avenida. elas estão bravas e os carros não podem mais andar. elas gritam justiça. os carros se desesperam. quando uma pessoa está em um carro, não é mais uma pessoa talvez. uma pessoa tentaria atropelar alguém que perdeu alguém? bandidos aproveitam os carros não sendo carros em sua função, porque, parados. bandidos roubam os motoristas, um a um, na avenida brasil. enquanto as pessoas gritam, os carros estacionam, pessoas levam coisas de outras pessoas, alguém que viu um pouco de quase tudo divide com a internet um video. no video dois policiais matam dois meninos ao lado da mesma escola. eles chegam bem pertinho de um, bem mesmo, mais do que os bandidos chegaram dos motoristas que furtaram. e atiram com o fuzil. a distância queima-roupa faz o corpo saltar para longe do chão, como se tivesse vida por 2 segundos, como se o movimento inverte-se a lógica da bala, um blefe de vida, mas o menino não está mais lá, é um corpo que pipoca, assim como o cinema, o policial deve gostar muito de cinema alguém deve ter pensado. calmamente no mesmo vídeo o mesmo policial mata o outro menino talvez já morto no chão. o policial não acredita na morte e talvez por isso mate tudo duas, três vezes, ou gosta tanto que, tenta repetir o gesto prazeroso, alguém pensa. os policiais então vão embora e deixam os ex-meninos ali, como se dormissem cansados depois de um jogo de futebol, sem saber que do outro lado do muro da escola, uma menina também deixou-se ir da mesma forma, e essa é a coisa com a morte, ela é incontrolável, tem vontade própria, nem o policial sabe e aliás muito menos ele. uma bala por exemplo pode ser só uma e ter só um endereço mas ela pode matar nenhuma ou várias pessoas ou matar por muito tempo ou pouco e quando ela é lançada ela é da morte pois não há diferença entre o fim e o desejo do fim. mas o policial não tem nada ou quase pouco ou nem mesmo ele mesmo e por isso pode achar que a tem pensa outra pessoa. depois do vídeo descobre-se que os policiais estavam lá para coibir roubos naquela região, o policiais não citaram números, mas disseram a palavra muitos na esperança que o plural pesassem na cabeça dos ouvintes. os policiais tem um jeito estranho de lidar com roubo. ainda é roubo se é para sempre e sem volta? é noite e a avenida brasil continua parada. os moradores, os motoristas, os bandidos, os policiais, os ex-meninos. as balas soltas como animais de caça pelos policiais horas antes continuam se movimentando pelos ares, mas os moradores gritam alto e por hora elas não se atrevem.
31.03.2017
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