Ninguém sabe direito o que é um desaparecido. Então um
desaparecido pode porque não ser qualquer coisa. O olho do sagui, a coruja pela
manhã traindo seu próprio hábito. A sombra deformada de uma figueira no
Ibirapuera. O cão que dorme com seu dono embaixo da marquise, a pomba que
atropela alunos dentro da universidade. Foi o que me disseram. Quando era
criança. Não disseram exatamente. Ninguém teve coragem de dizer as palavras
Edgar vivo. Edgar morto. Mas eu deduzi. Qualquer coisa. Os espíritos da
floresta da cidade das duas que destruímos. Até hoje quando vejo um animal em
meio as ruas, aparecendo nos sentidos, um quero-quero que não devia, uma arara
fugida do cativeiro clandestino, eu digo tio? tio!, eu digo: tio. Sei não fazer
sentido mas é um bom jeito de tentar familiaridade com todas as coisas.
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