quarta-feira, 22 de março de 2017

ninguém sabe

Ninguém sabe direito o que é um desaparecido. Então um desaparecido pode porque não ser qualquer coisa. O olho do sagui, a coruja pela manhã traindo seu próprio hábito. A sombra deformada de uma figueira no Ibirapuera. O cão que dorme com seu dono embaixo da marquise, a pomba que atropela alunos dentro da universidade. Foi o que me disseram. Quando era criança. Não disseram exatamente. Ninguém teve coragem de dizer as palavras Edgar vivo. Edgar morto. Mas eu deduzi. Qualquer coisa. Os espíritos da floresta da cidade das duas que destruímos. Até hoje quando vejo um animal em meio as ruas, aparecendo nos sentidos, um quero-quero que não devia, uma arara fugida do cativeiro clandestino, eu digo tio? tio!, eu digo: tio. Sei não fazer sentido mas é um bom jeito de tentar familiaridade com todas as coisas.

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