quarta-feira, 22 de março de 2017
há muito tempo atrás logo ali
Quando eu contei a minha avó que faria faculdade de comunicação ela me disse que não fazia bem a saúde. Eu disse: mas vó. Eu tomo café sem açúcar. Mas vó troco facilmente as drogas por uma boa amizade chave mestra. Era não nada disso que ela queria dizer. Há muito tempo atrás logo ali, disse e apontou para um velho calendário parado em 1967, toda palavra era perigosa. Houve um episódio, ela disse, pense, na rua da praia com a caldas junior, no tempo em que havia um jornal da manhã e um da tarde, dois dias a cada um, um presidente foge, há boatos de cidades inteiras sitiadas, os militares querem ocupar as ruas e serem estátuas ao mesmo tempo. Depois do baque, do pânico, do medo, alguns jornalistas simplesmente jogaram suas máquinas de escrever do terceiro andar da redação, algumas caindo e machucando os pedestres. Houve outros, ainda não acostumados, os jornalistas ainda jornalistas, engoliram as máquinas para dentro das próprias barrigas, pesadas, forçosas de entrar, caras as olivettes, tiravam as notícias pela boca como quem devolve a madrugada em uma latrina de um bar. Não se engane é muito perigoso, me disse minha avó. Eu imaginei os dedos indo fundos ali perto dos próprios umbigos, catando-se as letras, datilografando pelo tato, ou será que faziam eles, uns nos outros por ser mais fácil? Tranquilizei minha avó hoje em dia nós não usamos mais máquinas, mas estes pequenos aparelhos vovó, veja, menor do que algumas bocas, entrem fácil. E fingi não alcançar uma metáfora ruim e descarada, e entendi o mundo dos péssimos jornalistas.
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