quinta-feira, 23 de março de 2017
lavagem
em toda entrevista ela dizia a mesma coisa. todo dia ele acordava e lavava a calçada hoje a calçada está suja com o sangue dele. os repórteres tentavam mudar de assunto. todo dia ele acordava - tinha filhos? - e lavava a calçada - que horas eram? - hoje a calçada - você viu algo? está suja com o sangue - usava drogas? - dele. o sujo era um vermelho tão vivo. os cameramans pisando nesse vivo. ninguém a dava uma resposta. como se limpa isto quanto tempo a chuva leva para escorrer este cimento porque isto não aparece na previsão do tempo. por que no programa matinal da emissora ninguém ensina como remover a marca de um corpo na rua, especialmente, depois da ambulância não chegar a tanto tempo, e tudo voltar a ser resíduos? como contar aquilo a uma criança? ninguém fez a pergunta necessária. a que ela precisava responder. este é meu terceiro morto e o ano não termina. a morte custa dinheiro, limpar custa, arrumar. eu quero que vocês se lixem ela pensa, enquanto joga pela janela aberta um saco de carne decomposta dentro da van da reportagem quando eles partem de novo.
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