terça-feira, 11 de abril de 2017

uma cidade desaparece

houve uma cidade que desapareceu. um dia estava, no outro não. você pode pensar como se desaparece uma cidade. se uma cidade são várias. não é como um avião. as casas e as ruas podem retrocederem até virarem matou ou deserto. eis uma pergunta. ou como o império inca se vão as pessoas, ficam as construções como pensamentos petrificados? ou o local apenas some do tempo como um buraco negro que cansa da brincadeira de jogo do sério? eis a centésima primeira pergunta. pois essa cidade apenas não está lá. tudo que havia não está. contudo, existem rumores. uma outra cidade a milhas e milhas de distância, não seria exagero dizer outro lugar do planeta, desapareceu com essa cidade. nós sabemos que desaparecer aqui é um jeito menos franco e mais belo de dizer que a esperança usou seu último traje de gala. a cidade foi morta diz o rumor. a cidade que não gostava muito da outra pelo que viam os ouvidos por milênios e o sonho virtual por dias. falam até mesmo que não fora algo repentino. o governo dessa cidade inclusive fez um concurso onde foram analisadas as melhores ideias de desaparecimento. por meio de uma votação a população também pode escolher o melhor enredo, a melhor história oficial a ser usada para explicar o porque disso. tempestades solares, doenças cromossômicas, nuances extraterrenos. placas tectônicas. prêmios foram concebidos. e claro, plebiscitos. era uma cidade muito democrática. o que a cidade que não desapareceu não contava era simples. a cidade ficou famosa, e apesar das explicações, a vida dentro da vida das pessoas tende e muito a ouvir o mistério: este segredo coletivo que muitos guardam e poucos compreendem sozinhos. a cidade que desapareceu virou objeto de culto, de adoração, e hoje milhares de fiéis aguardam a sua volta.

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