terça-feira, 11 de abril de 2017
um rio que fala quando some
Nesta região no centro de nosso país muitas pessoas desapareceram. Desapareceram no mesmo ano. Talvez empilhadas na mesma hora. (Difícil saber o tempo dos desaparecidos, os desaparecidos os levam com eles). A região é cortada por um grande rio que na língua dos originários significa lugar onde se retorna. ( Embora lugar nessa língua também seja o nome de um pássaro). Ninguém sabe disto, porque ninguém os ouve. As pessoas contam que elas desapareceram, mas se várias pessoas desapareceram no mesmo local, o que isto quer dizer? Os originários sabem. Eles estão lá desde o início de tudo. Falam com as moscas, que, trazem notícias das copas das árvores. Foram eles que nos contaram. Uma ou duas vezes por ano o rio pisca. Simplesmente pisca. Como se fosse uma falha, um tilt. Em fração de segundos toda a água do rio some, como se fosse ele mesmo o desaparecido, como se fizesse jus a toda aquela gente. Neste momento, embora minúsculo, os corpos dessas pessoas podem ser vistos no que seria o fundo do rio, alguns ainda segurando suas armas, outros em pedaços, mas ambos visivelmente aparecidos. Talvez não mortos mas. Constantemente assassinados. Os originários dizem que não cabem a eles tratarem disto, embora, se preocupem. Afirmam que pode se tratar de uma ameaça por parte do rio, e aquele, a quem o rio responde. O rio esta bravo. Contam. Pode sumir para sempre. O povoado usa suas águas, para a sede, o alimento, a diversão, a higiene, com muito respeito aos inquilinos que lá foram acamados. Enquanto isso, é difícil convencer nosso país a visitar o centro de nosso país. Enquanto há água nas torneiras sempre é futuro.
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