terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

os telegramas passam bem obrigada

1.

amanhã já não é mais tão ontem assim e ainda: de você, nenhuma resposta. por favor, mande seu endereço para que eu possa te enviar esse bilhete. p-o-r-fa-v-o-r (lido pausadamente, cada letra sendo usada para irritar por um dente diferente, na esperança de uma nova afta). onde você mora? você morreu? ainda respeita as sobrancelhas dos outros? conseguiu comprar uma casa com um quarto secreto que só ira descobrir aos 76? você já tem 76? descobri que há um mês-relâmpago entre setembro & outubro e o apelidei de Barcunkie. se quiser conhecê-lo é só chegar. tem um jardim. eu desligo a chuva. acampamos, quem sabe, faíscas e tal & tal.

2.

por vezes gostaria de saber seu rosto ajuda na hora de contar uma história. se você fosse jovem talvez me deixasse confuso. a confusão aqui é a curiosidade de saber o som do cheiro de suas axilas. se você fosse mais velho, do tipo muito velho, talvez eu o confundisse com meu avô (que morreu sem ter me conhecido) e por não falar com os mortos eu me calasse. também trabalho com a hipótese de que você seja uma mulher. nesse caso seríamos aquele tipo de amizade que troca as chaves mas mantém as saudações no nível respeitável. o importante é que você não seja eu: um tipo muito bonito mas pouco falante que sempre erra a hora de ir embora.

3.

preciso urgentemente saber se você já existiu na minha rua caso contrário não me desejo mais

4.

meu terapeuta recomenda ferrenhamente que eu aceite conselhos de desconhecidos. foi por isso que pensei em você. sempre lembro da última coisa que você me disse quando tomo banho e o sabonete desaparece misteriosamente:

- não sei quem você é.

existem alguns problemas que me perturbam, nunca sei se meu carro é meu mesmo ou roubado. tenho a autoestima baixa por isso por vezes acho coisas bobas do tipo que meus pais me deram esse nome por terem perdido uma aposta.  mas nenhum desses me prejudica tanto quanto um em especial:

o que se fazer nas quintas-feiras?

5.

devia existir uma maneira rápida de aprender a cozinhar deveria ser parecido com saber escrever vcoe vvoc oce vece voce ou lydia davis mas sempre erro

6.

contar um segredo para alguém pela primeira vez na vida faz bem dizem então lá vai
quando eu era pequeno havia esse garoto que se gabava porque sabia amarrar os tênis, todo mundo tinha tênis e só ele sabia amarrar, na verdade outros sabiam também mas ninguém os amarrava como ele

hoje ele só usa sapatos e os tira apenas para descansá-los em uma bacia grande de água quente na hora de chegar em casa e ele sempre precisa de uma hora certa para chegar em casa

e eu gostava dele gostava muito dele
era um amor desses proibido

embora nunca tivesse me ficado claro se eu gostava dele por saber amarrar bem os tênis
ou porque de alguma forma eu sabia que dali um tempo
amarrar os tênis não ia servir pra nada

7.

existe uma hora na vida de uma pessoa que a pornografia do mundo não é mais interessante do que uma fechadura contra a parede, que pagar para fazer sexo as três da manhã com as costas de alguém não faz disparar o grande arco que rasga a cortina por trás dos olhos

mas existe você doce remetente

a quem todo envio é fálico aonde mora meu pau nesse momento em que a gravidade dele
está em suas mãos.


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