ela era dessas pessoas. não acreditou quando contei que não era uma música, mas sim, uma memória do mar. não gostava de Debussy. mas gostava de música. nós costumávamos colecionar folhas secas. conversávamos por horas enquanto enchíamos cada uma grandes mochilas com restos arbóreos.
íamos ao parque todas as quinta-feiras à tarde que era o dia de minha folga do trabalho. eu a buscava. uma casa de repouso onde por mais incrível que pareça era difícil conseguir lugar para estacionar. ela nunca lembrava que eu ia a buscar para nossos passeios. era sempre uma surpresa. e eu segurava meus olhos como se eles pudessem escapar junto com um bocejo.
no parque me contava sobre as plantas. ela era dessas pessoas. não sabia nada de plantas. mas no passado houve um tempo que desejou saber. por isso no futuro mentia. mentia o nome delas. inventava características. "essa é a alechos vegetaum", seu maior inimigo é a fuinha. era uma senhora engraçada. falava muito devagar quando estava mentindo. olhava para o canto direito como quem busca decifrar uma palavra presa num galho de árvore a milhas de distância. mas eu tinha toda paciência do mundo. "as figueiras tem esse nome porque o nome ladeira ainda não tinha sido inventado". e eu ria. ria. um tipo de riso moeda de troca para a calma no próximo sono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário