é de manhã. todas as lojas da rua ainda não sabem disso. mas na loja das cousas é diferente. ela já sabe que hoje nenhum avião caiu. que a prefeitura ainda não chegou na esquina da Euverim com a Gorbedo. que não está chovendo, o que não quer dizer é claro que não choverá. a campainha toca. um homem entra.
ele é alto e tão magro que sua altura duplica. em uma mão carrega uma mala. na outra um aperto de mão.
está corretamente bem vestido nem a primeira metade do século XX. gravata. calça executiva. porém o terno. o terno está completamente destruído. esse detalhe se destaca em tudo.
o homem do século passado se aproxima do balcão e diz:
- eu quero que este terno volte a ser como era antes.
- e como ele era antes? - o vendedor responde.
- não havia um furo sequer. um furo. não havia.
- não. eu quero dizer antes quando?
- entendo o senhor. antes quando o comprei. era domingo. três anos atrás eu voltava para ver minha ex-mulher, ainda minha esposa, com uma roupa nova e um buquê de flores silvestres. antes como naquela tarde de domingo.
o homem atrás do balcão então faz o pedido.
- então me dê seu terno.
o mesmo homem então pega o trapo empoeirado e o coloca no lixo. ele diz:
- durante a noite de hoje ele terá sumido definitivamente. o mandarei queimar e não sobrará nem denúncias. agora pode ir embora.
o homem alto agora está definitivamente bem vestido. ele não entende o que acontece mas obedece. sai pela porta da loja das coisas e ainda é de manhã. uma linda manhã. mas talvez chova.
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