1.
na chegada não perguntaram sobre seus bolsos : o que levavam ou esqueciam. um asiático - fã de árvores magras e medo portátil (tom jobim) a buscou na rodoviária. "tudo o que você precisa saber aqui é que não importa aonde esteja, as garças chegaram primeiro". o sol destemperou a conversa e na sombra em falta tal realidade perdeu os pés. havia só uma rua. nessa rua só uma direção. "telefones, há não"contou a sobrancelha salgada do homem. ela se sacudiu, alguns nomes cairam, um juntou do carpete e entregou para a recepcionista do hotel. ela sentia que sua mala era diversão para o chão. no ouvido esquerdo um zumbido. do seu quarto se via o mundo quando se deita.
2.
um senhor, um de grandes longitudes, a pergunta o que faz. "estudo grosálias marinhas" responde. é cedo, é café, é da manhã o café e o continente nunca retorna ligações. o homem tinha jeito de quem não sabia mais ouvir sobre o mar. não retornou o convite aos olhos dela, com um guindaste no rosto se serviu na mesa de frutas, quando comia uma fruta com romã, uma parte da boca se concentrava somente em se apoiar nos cotovelos do ar, e justamente por essa gruta natural, o sabor transparente escorria. aquela deveria ser a feição da falta de interesse.
3.
no primeiro dia ela conta ao gravador "até agora, não identifiquei nenhuma grosália marinha". Não o diz - par exemple - que tem medo de mergulhar; que depois de molhada tem medo: nunca secar completamente. ali é a colina Cascatu, e sua parte mulher sente a perna esquerda fraquejar ao lidar com a ausência de nuvens. quase que explica, é apenas a diferença de temperatura, ou o cansaço, que na última mudança guardei abaixo da cintura. mas não há ninguém por perto e são nessas situações que ela, a perna, perde o controle de seu humor.
4.
seu gravador acordou gordo e com dor de barriga. dentre as bordas de seu recheio estomacal frases como: "queria não ter sentido o sonho dentro de John Crowford" ou "como você disse que se chama mesmo?". Ele, ao contrário dela, seja ela o lugar qualquer onde esteja agora, recorda tudo. ontem saíram os dois - e num bar local estacionado em grama fofa - a deram uma garrafa de popka. na primeira dose ela mentiu que era prima distante da Albânia. na terceira que era a Albânia. e depois esqueceu de regar um ou outro pensamento - só os mortovivos vinham à tona - nem de desligar ele, o pobre, ela se deu a lembrança e o resultado foi isso: pela noite inteira com os ouvidos abertos ficou remando trabalho. em dias como esse o gravador tem saudade de sua velha vida. embora alérgico a areia, embora descrente do sol "era tão bom aquilo", aqueles dias de morar na bolsa de um arqueólogo talvez tenham sido os melhores. dói muito levar por dentro o que para outros desvirou até mesmo recordação. hoje cabe a ele restabelecer a manhã.
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