era jovem. e foi jovem até aquele exato momento. se é a juventude paixão e entrega, foi ali onde acabaram-se os três que são um. o polegar sobre a chama de uma vela carregando a casa nas costas, queimando as bordas da digital. o gelo preso a boca antes do drinque, torrando a pele. o tiro solto encontrou a clavícula, a clavícula abriu o pulmão e teve força ainda para escorrer agora e quebrar um retrato na mesinha de canto. queimava feito fogo e gelo ao mesmo tempo aquele buraco aberto, aquele caminho deformado como um laço estranho entre os dois. muitas coisas foram levadas com o som daquele disparo. com o cheiro daquele disparo. com o cheiro de bêbado de seu pai segurando a pistola que juravam todos não funcionava mais, quiçá com muita insistência. era um ponto de não retorno. um ponto a ser contado pelo sangue quente, pelo peito furado, o ar gago, rarefeito, e mais que tudo a dor em seu máximo provérbio - te darei o chão mas te darei a queda. não, não era mais jovem. tinha doze ou onze ou dezesseis. tinha mesmo apenas um pulmão e meio a partir de agora, um osso estraçalhado, um olho confundido com um cano de pistola, e o derrotismo vago e sereno de não ter conseguido nem segurar uma bala. ou de ser abandonado até mesmo por uma.
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