1.
quando bergman ia filmar sempre usava uma boina. Isso acontece talvez porque a
ausência de cabelo o tirava a confiança. Isso acontece talvez porque é por
causa da boina que ele sabe que está filmando. Isso acontece porque os últimos
cabelos ele não quer deixar pelos ares assim como os primeiros que o
abandonaram em troca da não volta. Isso acontece porque é a boina que dirige e
não ele.
no fim de um dia de trabalho Bergman se encontra com sede. Há uma mulher. Há uma noite. As duas o procuram mutualmente. Normalmente o encontram embaixo da boina. Às vezes gostam. Nas outras gemem.
2.
mas isso
nada tem a ver com boinas. Ou com bergman. Ou com cinema. Esse texto tem a ver
com chapéus. Como ficaram meus chapéus depois que você saiu daqui. Aqui seus
relatos:
O QUEPE DE
MARINHEIRO
O quepe de
marinheiro descobriu que um dia seria velho. Descobriu que um dia descobriria o
sexo. Estando velho. Vemos aquele filme lembra. O chapéu tem medo de não viver
aquela vida de Gloria. Donna Summer aos 60 anos. O acalmo colocando-o em minha
cabeça, digo baixinho: quando envelheci percebi que era mais burra só que de
uma forma diferente. Numa forma numérica.
O QUEPE DE
AVIADOR
O quepe de
aviador afirma que você tornou a família dele muito mais interessante. Não
consegue mais olhar para a matriarca e pensar: essa conversa é tipo rebobinar
só que não cabem em uma televisão. Quando era de manhã o quepe desceu e viu a
mãe com agulhas e folhas na mesa. Pensou: mamãe está costurando folhas.
Gostaria que essa fosse uma prática diária. Teve muito orgulho que nem estragou
voltando a realidade.
O CHAPÉU
COCO
O chapéu
coco viveu uma experiência muito feita por surpresa. Houve uma pessoa. Uma
pessoa do passado. Voltou. Na casa só havia pessoas do presente. Esse passado
trouxe chocolates e uma cara de passado o que é incrivelmente assustador. Ela
contou de sua nova vida feita com fios dentais e anti-séptico nas bordas.
Convenceu felicidade. Nada disse do acidente. Todos escutaram pasmo porque
aquele era um momento sem reprise. Inacreditável para as pálpebras. Ela chorou.
Ela leu um longo discurso com as partes do corpo. Foi servido café. Trocado
planos futuros. O mais velho da família então abriu os dedos e levantando-os
acima retirou parte do telhado. Quando ela voltou para casa sua bolsa fazia
barulho pelo movimento deles. Acho que agora dorme melhor.
O CHAPÉU DE
GANGSTER
O chapéu de
gangster passou por umas. Era almoço de família. Pela primeira vez alguém faz
reverência a realidade e lógica das coisas e vai parar no hospital. Antes os
novos velhos discutem. Enquanto isso o chapéu não sabe o que fazer. Sente falta
dos tempos que tinha todo o poder armado até os tímpanos. Mas a tia está
desmaiada no sofá onde uma foto
caberia bem, ao lado. Naquele balde novo morador do puro refluxo. As
verdadeiras fotografias tem narizes mais fortes que os olhos.
A BOINA
MADE IN OUTRO PAÍS
A boina made in continua apaixonada. Como se sente muito forte, quando as pessoas dizem a palavra sangue ela suspira baixinho: xilema. Adoro a ver quando dorme, é uma doçura. Leva à sério a metáfora de olhos versus portas e as arquiva aos quilos. Uma curiosidade: elas sempre dão para o mesmo lugar. Vai entender.
A boina made in continua apaixonada. Como se sente muito forte, quando as pessoas dizem a palavra sangue ela suspira baixinho: xilema. Adoro a ver quando dorme, é uma doçura. Leva à sério a metáfora de olhos versus portas e as arquiva aos quilos. Uma curiosidade: elas sempre dão para o mesmo lugar. Vai entender.
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