terça-feira, 17 de maio de 2011

a memória dos peixes

Estrofe diária: deixa sonho dissolver com vida. Te antena mas não te apega nos corrimões dos gestos. Tá todo mundo assim, descalço e mendigando seilá o que. Esperança. Noite fiada com amor emprestado.

E olha só para ti, comédia pública, pílula de chilique, todo exibido, nariz turbina, mãos a desenhar castelos nos ares. Te escuta seu patético. Tu fala é bem assim “então ele fez café e ainda me serviu café!”, gira a essa tua careca pro lado avulso de público, e dispara olhares ao infinito cor azul, assim bem airjet “ele me perguntou se eu estava casado”, tu esbraveja, ignorando os calos, a corcunda da busca por misérias, “me sinto a gostosa, foi melhor noite da minha vida”. Os calos não são músculos, não precisa exercitar. Sacode, isso e esquece. Que nessa era não há mãe de santo que não enxergue sintoma. Nosso amor foi cheio para estourar rápido. O nosso amor foi a sombra de um vaso bonito, uma sobra que só nos aumenta quando escuro. E a ressaca, lembra, anos 80 e pés na bunda. Saí daqui. Deixa de cantinho um crédito de aventura. Nossas cruzadas, planejamentos uivantes se desfazendo nem um laço de sapatilha e você construindo pontes só presas de um lado. Vítima de hipótese de absurdo, mais uma dessas credores da lama. E as portas na cara, e os sonhos molhados, os caixões pré moldados, as fases azuis, anis de bordeis. Está tudo aí, no cantinho da bochecha, nas venesianas dos olhos.

Você olha para ele e pensa como será que irá me matar, logo que eu que na décima tentativa já parei de contar, você pensa, como será que ele vai me matar. Tão lindo esses olhos, no escuro são verdes, no claro dá medo de olha no fundo e não encontrar o fim. Você sabe. Planetas são presos sem se enxergar, todos sabem da fama do cabo das tormentas, todos sabem como é grande o lixo nas ruas no dia seguinte ao desfile de carnaval. Lantejoulas são percevejos. Mas não adianta. Agora já planeja ele inteirinho, férias no Líbano, cruzeiros e peças de teatro nômades – sempre com fundo terno e maquiagem de boneca.

Correio. Expediente das moscas. É dezembro percursor de finais, mas é imbatível, você não se rende – quer recomeçar. Quem é a roda pintada obdecendo o sistema dos muito sensíveis e pouco céticos? É você. Que assina planilhas e pensa. Um sofá, uma cama, uma rede, um chão. Que pensa manhã, tarde, de noite, madrugada. Juntos pela Castro Alves, tomando conta das melhores piadas e cantando dias calmantes. A o peito ralo, as falhas da barba cuidadosa. Reações a mudanças, reação á noite mal dormida. Carinhos matinais, espátulas de eu quero. Você imagina e excede o terreno reservado da compreensão. A vida gigante te levando de desbravador, assim, logo tu. Que recorre ao tempo para tira-macha, que aterrisa em pista molhada por ódio ao controle, que nessas tantas já´deve até ta cobiçando livros de história.

Não te ensinaram a vida só tira o que se carrega. O que de corpo importante dá alvo grande. É cabuloso a governança dos teus olhos amáveis ao que desobedece mas sabe amar no seu vernáculo, sabe tudo. Um sábado, uma semaana qualquer de tocha, de combustível negro, vem ao meu apartamento e chora. Arranhado por dentro, lava tudo com uma queda de água salgada que tem poder de marés a ilhar-me a razão. Não me pergunte porque. Aconteceu. Os dias estão todos submersos em exatidões, não se pode dormir em casa sempre. E continua. Fui tanto, fiz mil, só pra ele. Abaixei a cabeça, no mansinho do cinema, perdi a cena do bejo, para olhar o amor pelos olhos dele. Tantas vezes. Escureci cedo, tanto corpo, tanto gasto - quilômetros e quilômetros no seu interior, reunindo as perguntas que faltavam para ser meu todo meu. Você queria ver algo se acabar. Ascendo algumas velas, falo de Madalena, do que não deu no jornal, desconto tudo na barriga do pecado atrasado. Você mansinho atira e erra, porque mira com os olhos, diante ao nada. Escuta tudo feito pirâmide. Longos dedos segurando meus braços, rota de conforto, de confiança na natureza. Pego um inscenso, pego uma garrafa de vinho, pergunto – quer sair. Você quer o poder de uma pedra. Diz que não melhor seria, Dolores D., conhaque. Sólido, dentro de si. Sentir as rotas do sangue e se despacho pelo peito. Os cavalos fazendo sinfonia com os metais resultantes dos respiros dos pulmões. Abaixa a cabeça, entende que quer calor. O meu, só pra não errar, de novo. O meu, não um novo.

Era já um homem bonito, mas querendo se curvar as lerdezas. Me recitava sobre o amor de cantinho, citava Lorca, Wilde. Falava de tentação como quem risca o fósforo pela primeira vez. André Gide. Não me culpa pelos cubos de gelo: sabe, naquela época, que me protejo esvaindo. A solidão é uma manhã eterna e sem filtro, sol refletido no gelo. Conta de amor. Eu rio encharcada, uso seriedade para manter em segredo. Vejo uma criança. Brilhante por um desafio, uma queda, uma pequena mordida que o faria refém, de algo, de alguém, de um querer mansinho que conquista sem perceber, a sala, todos os móveis, vira a casa. Lembro de te ver, alegre daquela maneira era tão estranho e desculpa por dizer que era sim muito estranho sorridente, leve, saltialtos “isso vai passar”.

Eu entendo que você levante cedo todas manhãs, nunca tire a chaleira do fogo. Dói ver numa felicidade uma descida. Tu é leve demais pro ar. Passa mundinho passa. Mas não me fala de amor. Me mostra tua alegria, não me conta um triz. Não me conta de um dois.

Eu que já decorei os endereços dos quais tu importa teus pedaços, eu que com minha linha costuro as partes que faltam.

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