Sentira palpitar por toda parte a possibilidade de enumerar, a partir daí, os aspectos ditosos de seu destino, já que afinal, era B. que ali engenhava poços salgados entre as geometricidades dos olhos, já que era B, no auge dos seus 30 anos, o homem poliglota das perfeições, o papiro delicado onde tratava a vida com serenidade, que segurava sua mão, escorado em joelhos, de um jeito sonhado à pino antes das manhãs. Olhava para o teto, fugira a atenção falsificada aos encontros das paredes, como quem não escutara o que ele dissera a pouco, já pensava em Santa Teresa, o verdinho da Serra, pimenta caseira e o entardecer de ser exposta às dubiedades das circunstâncias de ser jovem (essa indolente batalha que não sabe ela, mas vive e morre atrelado ao fim como lógico da instância ser). Era pequena ali, ainda, tão pequena. A casa transformou-se em um mar de elaborações, prédios de raciocínios construindo-se e desaguando, ondas, onde havia duas saídas: atacar-se a uma bóia da embarcação ou partir rumo ao longe apenas com as forças dos braços, e se fosse o fim, que não chegasse quando ainda em suspensão. E naquele momento que dura até hoje, era quatro de Julho de 1991, peixes erravam sua correnteza no Índico, uma potência débil ia pro espaço dessa vez não literalmente, e aquele homem era tudo menos uma embarcação à vista. “Ele era, aliás, Bernardo Fonseca, sinto lhe dizer sob nossas impossibilidades, mas até hoje, você é uma ilha .”
Não é ela dessas que cultiva conchas ao invés do som vivo do mar.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Carta aberta a Instituiçã Afonso Forte
Carta encontrada na avenida João dos Passos, endereçada a Instituição Afonso Forte. Estava na companhia de um corpo não identificado, falecido após um letal ataque de pancreatite aguda.
1. Primeiro, não quero falar da fuga. A iniciar, porque não fui eu que tomei a decisão (eu e Alberto conversamos, por esses dias que aparecemos juntos, sobre não aliar-se a essa idéia). Segundo, mesmo eu sendo de formação religiosa, sempre confiei na ciência, portanto nos psiquiatras, representantes dela nesse meio, e assim sendo, confio no trabalho e coerência de vocês que resultará na subtração desses animais, desculpe-me o termo, que tanta atrapalham minha vida dedicada a benção do senhor (principalmente Sofia, a destrambelhada revoltada que me faz acordar com enxaquecas terríveis, estômago deteriorado e um odor significativo de cachaça). O que muito me piora o pouco tempo que tenho quando eles não estão aqui. Não sei onde estamos agora, provavelmente Sofia estava desenhando, há tintas nas minhas mãos, estou
2. Puta que pariu, essa vaca sempre se metendo aonde não é chamada, minha cachaça, que cana o quê. To parando to parando, eu disse e parei. Fugi, faria de novo, caro Doutor, rogo uma atençãozinha, é minha filha senhor, não a veja há dois anos, e que vontade me dá, não fumo não bebo, só fujo, mas é pra ver meu benzinho...o doutor deve entender, porra, deixa eu ser clara aqui ó, não deixam entrar crianças na desgraceira do manicômio! Nossa, olha o Alberto. Bota velho nojento, bem pior que eu. Repugnante, sempre fumando um cigarro atrás do outro, amarelo de nicotina. Quantas vezes eu acordei com a minha perna, sabe, aquela que é ruim, manca, por causa do acidente, doendo demais, descansando embaixo do que? Da virilha do Giocondo! O esquizofrênico do quarto 46, nu, ai, imagina eu, com aquele cheiro de bunda de homem por tudo, a coisa branca empedrada nos pelos, como é possível esse maldito do Alberto, viado, velho e cleptomaníaco e ainda, pai de dois filhos, tantos ícos a mais para adicionar ao dicionário de distúrbios, e a outra frerinha toda louca também, apaixonada pelo padre, mal-comida, entende porque eu bebo, alias, bebia doutor, você entende o que
3. Dependendo não sou eu que mais quero essa fuga. Vou ser sincero, estou à beira da morte. E a sua instituição sempre me tratou tão bem. Adoro o uniforme branco, o desinfetante de violetas nos cantos do banheiro, os bailes festivos, tudo. É tudo que sempre sonhei para minha vida, não trabalho, durmo a vontade, converso, jogo Damas. E ainda por cima, não gasto um tustão, os meus filhos que arcam com os custos dessa boa vida. Eu não sou culpado por me divertir, Giocondo, por exemplo. Aconteceu tão rápido, é claro, é contra às regras e tudo. Eu tentei evitar, mas ele está obcecado. Antes me dissera ser esquizofrênico, só agora descobri na sua ficha que está internado na clínica por ser obsessivo-compulsivo. Foi um erro Sr. Ivan, um erro. O homem está atrás de mim, fiquei com medo, eu e Sofia então cheg
1. com dificuldades para identificar esse lugar. Nunca fiz nada de mal a ninguém, sempre me privei da liberdade mal utilizada pelos mortais comuns. Isso não é justo, deveras. Adoro a casa Afonso Forte, melhor que aí só a casa de Deus
2.eu quero dizer. Casa de Deus? Você pode adivinhar porque né...o padre Leopoldo ainda trabalha lá é? Tarada pelo homem de saia, pro inferno essa doida.
3. ou para mim com essa idéia, topei na hora. É medo. Nix até sabia, mas nada poderia ter feito além de rezar. Além do mais, eu fervia de raiva dela desde que desatou a utilizar água benta em tudo. Minhas roupas encharcadas, assim não dá. Mas como é difícil essa vida Doutor Ivan. Nesses meus 70 anos, vivi e não vi tudo. Até viver com Sofia e Nix, tudo bem. Eu me dou bem com mulheres, apesar das outras diferenças. Você não imagina o que é viver com essas duas, engraçado às vezes. Outras, apenas dolorido. Nesses dias eu estava fazendo a barba, está certo que quase não tinha pelos em minha face. E não é que eu lá, com o rosto ensaboado e a lâmina na mão em ascendência vertical apaguei e Nix veio no meu lugar? Nem preciso dizer que a freirinha gerou galhos de sangue na minha face. Doeu por uns dois dias, terrível.
1. as pessoas nos tratam com bondade, há bolachas recheados nos cafés da manhã e sala de jogos nos finais de semana. As enfermeiras são de dar gosto de ver, atenciosas e tudo, acho até que estou enfim curada (aliás, nunca soube bem o motivo da minha internação, ninguém me explica nada, eis aí minha crítica). O que eu sinto falta mesmo é de uma capelinha menor, mas é a vida. Podiam pelo menos colocar alguma imagem de um santo, alguma coisa assim, um ícone do filho Jesus. Esta aí outra coisa chata, sabemos que a capela tem que ser laica (pode isso?), porque cada um dos internos tem uma religião né...mas por favor, organização! Esses dias eu estava fazendo uma benção e ao meu lado um desses envagélios exorcizava uma criatura. É necessário a construção de uma agenda, por Deus... Mas falo muito. Deixe-me contar tudo, o que realmente importa, sobre essa fuga desalmada que me forçaram a participar. Bastou a enfermeira Inês cair no sono para Alberto pegar suas chaves e abrir a porta principal, o senhor sabe, estava tudo escuro, foi na última madrugada. Jones, aquele guarda carrancudo, escutava seu MP3 enquanto lia algum gibi que havia por lá. Passamos despercebidos pela porta da frente. Daí, encontramos uma janela aberta, depois fomos ao pátio, onde enfim Sofia nos pulou rumo a calçada no outro lado da cerca. Foi simples assim, vocês tem que tomar alguma atitude. Estou com medo, não trouxe nada, nem os escritos com a palavra de Deus. Por favor, venha nos buscar.
2.Estou com dois doidos aqui doutor. Digamos que tenho meu manicômio particular, dentro desse corpinho. Não agüento mais Alberto e Nix, e claro você me diria “então volte para a Clínica Sofia! Iremos tratar você...”. Mas nós dois sabemos que não funciona assim. Na Clínica como você fala (é interessante você se referir a aquele lugar assim, bando de malucos), tem dias que eu fico dias sem aparecer. E tenho que escutar toda merda que Alberto e Nix aprontam, filhos da mãe, nem lembro donde vieram, um dia apareceram lá e deu, fodeu tudo. O velho me deixa fedendo a colônia de homem e fumo de palha e a freirinha, comendo doces sem parar, brancos, negros e cajuzinhos, essa aí ainda vai me dar uma diabetes...
3.Que coisa, a pessoa que quer liberdade é considerada louca hoje em dia. Tá certo que eu Nix e Sofia não somos os mais normais, mas nós acertamos poxa. Apesar de tudo a gente vive, mas te garanto Doutor Ivan, o meu lugar é na rua, e o delas também...ninguém pode viver dentro dessas paredes para sempre. Como eu te disse, gosto muito da sua Instituição. Mas fico com pena das meninas, aprisionadas nessa casa cheia de biruta...nos deixem em paz, por favor.
4.Caro Dr. Supervisionador, não sei quanto tempo que tenho para escrever antes que eles voltem. Por favor me tire daqui, não aguento mais eles na minha cabeça.
Assinado Juarez Osório (CPF: o verdadeiro dono desse corpo).
1. Primeiro, não quero falar da fuga. A iniciar, porque não fui eu que tomei a decisão (eu e Alberto conversamos, por esses dias que aparecemos juntos, sobre não aliar-se a essa idéia). Segundo, mesmo eu sendo de formação religiosa, sempre confiei na ciência, portanto nos psiquiatras, representantes dela nesse meio, e assim sendo, confio no trabalho e coerência de vocês que resultará na subtração desses animais, desculpe-me o termo, que tanta atrapalham minha vida dedicada a benção do senhor (principalmente Sofia, a destrambelhada revoltada que me faz acordar com enxaquecas terríveis, estômago deteriorado e um odor significativo de cachaça). O que muito me piora o pouco tempo que tenho quando eles não estão aqui. Não sei onde estamos agora, provavelmente Sofia estava desenhando, há tintas nas minhas mãos, estou
2. Puta que pariu, essa vaca sempre se metendo aonde não é chamada, minha cachaça, que cana o quê. To parando to parando, eu disse e parei. Fugi, faria de novo, caro Doutor, rogo uma atençãozinha, é minha filha senhor, não a veja há dois anos, e que vontade me dá, não fumo não bebo, só fujo, mas é pra ver meu benzinho...o doutor deve entender, porra, deixa eu ser clara aqui ó, não deixam entrar crianças na desgraceira do manicômio! Nossa, olha o Alberto. Bota velho nojento, bem pior que eu. Repugnante, sempre fumando um cigarro atrás do outro, amarelo de nicotina. Quantas vezes eu acordei com a minha perna, sabe, aquela que é ruim, manca, por causa do acidente, doendo demais, descansando embaixo do que? Da virilha do Giocondo! O esquizofrênico do quarto 46, nu, ai, imagina eu, com aquele cheiro de bunda de homem por tudo, a coisa branca empedrada nos pelos, como é possível esse maldito do Alberto, viado, velho e cleptomaníaco e ainda, pai de dois filhos, tantos ícos a mais para adicionar ao dicionário de distúrbios, e a outra frerinha toda louca também, apaixonada pelo padre, mal-comida, entende porque eu bebo, alias, bebia doutor, você entende o que
3. Dependendo não sou eu que mais quero essa fuga. Vou ser sincero, estou à beira da morte. E a sua instituição sempre me tratou tão bem. Adoro o uniforme branco, o desinfetante de violetas nos cantos do banheiro, os bailes festivos, tudo. É tudo que sempre sonhei para minha vida, não trabalho, durmo a vontade, converso, jogo Damas. E ainda por cima, não gasto um tustão, os meus filhos que arcam com os custos dessa boa vida. Eu não sou culpado por me divertir, Giocondo, por exemplo. Aconteceu tão rápido, é claro, é contra às regras e tudo. Eu tentei evitar, mas ele está obcecado. Antes me dissera ser esquizofrênico, só agora descobri na sua ficha que está internado na clínica por ser obsessivo-compulsivo. Foi um erro Sr. Ivan, um erro. O homem está atrás de mim, fiquei com medo, eu e Sofia então cheg
1. com dificuldades para identificar esse lugar. Nunca fiz nada de mal a ninguém, sempre me privei da liberdade mal utilizada pelos mortais comuns. Isso não é justo, deveras. Adoro a casa Afonso Forte, melhor que aí só a casa de Deus
2.eu quero dizer. Casa de Deus? Você pode adivinhar porque né...o padre Leopoldo ainda trabalha lá é? Tarada pelo homem de saia, pro inferno essa doida.
3. ou para mim com essa idéia, topei na hora. É medo. Nix até sabia, mas nada poderia ter feito além de rezar. Além do mais, eu fervia de raiva dela desde que desatou a utilizar água benta em tudo. Minhas roupas encharcadas, assim não dá. Mas como é difícil essa vida Doutor Ivan. Nesses meus 70 anos, vivi e não vi tudo. Até viver com Sofia e Nix, tudo bem. Eu me dou bem com mulheres, apesar das outras diferenças. Você não imagina o que é viver com essas duas, engraçado às vezes. Outras, apenas dolorido. Nesses dias eu estava fazendo a barba, está certo que quase não tinha pelos em minha face. E não é que eu lá, com o rosto ensaboado e a lâmina na mão em ascendência vertical apaguei e Nix veio no meu lugar? Nem preciso dizer que a freirinha gerou galhos de sangue na minha face. Doeu por uns dois dias, terrível.
1. as pessoas nos tratam com bondade, há bolachas recheados nos cafés da manhã e sala de jogos nos finais de semana. As enfermeiras são de dar gosto de ver, atenciosas e tudo, acho até que estou enfim curada (aliás, nunca soube bem o motivo da minha internação, ninguém me explica nada, eis aí minha crítica). O que eu sinto falta mesmo é de uma capelinha menor, mas é a vida. Podiam pelo menos colocar alguma imagem de um santo, alguma coisa assim, um ícone do filho Jesus. Esta aí outra coisa chata, sabemos que a capela tem que ser laica (pode isso?), porque cada um dos internos tem uma religião né...mas por favor, organização! Esses dias eu estava fazendo uma benção e ao meu lado um desses envagélios exorcizava uma criatura. É necessário a construção de uma agenda, por Deus... Mas falo muito. Deixe-me contar tudo, o que realmente importa, sobre essa fuga desalmada que me forçaram a participar. Bastou a enfermeira Inês cair no sono para Alberto pegar suas chaves e abrir a porta principal, o senhor sabe, estava tudo escuro, foi na última madrugada. Jones, aquele guarda carrancudo, escutava seu MP3 enquanto lia algum gibi que havia por lá. Passamos despercebidos pela porta da frente. Daí, encontramos uma janela aberta, depois fomos ao pátio, onde enfim Sofia nos pulou rumo a calçada no outro lado da cerca. Foi simples assim, vocês tem que tomar alguma atitude. Estou com medo, não trouxe nada, nem os escritos com a palavra de Deus. Por favor, venha nos buscar.
2.Estou com dois doidos aqui doutor. Digamos que tenho meu manicômio particular, dentro desse corpinho. Não agüento mais Alberto e Nix, e claro você me diria “então volte para a Clínica Sofia! Iremos tratar você...”. Mas nós dois sabemos que não funciona assim. Na Clínica como você fala (é interessante você se referir a aquele lugar assim, bando de malucos), tem dias que eu fico dias sem aparecer. E tenho que escutar toda merda que Alberto e Nix aprontam, filhos da mãe, nem lembro donde vieram, um dia apareceram lá e deu, fodeu tudo. O velho me deixa fedendo a colônia de homem e fumo de palha e a freirinha, comendo doces sem parar, brancos, negros e cajuzinhos, essa aí ainda vai me dar uma diabetes...
3.Que coisa, a pessoa que quer liberdade é considerada louca hoje em dia. Tá certo que eu Nix e Sofia não somos os mais normais, mas nós acertamos poxa. Apesar de tudo a gente vive, mas te garanto Doutor Ivan, o meu lugar é na rua, e o delas também...ninguém pode viver dentro dessas paredes para sempre. Como eu te disse, gosto muito da sua Instituição. Mas fico com pena das meninas, aprisionadas nessa casa cheia de biruta...nos deixem em paz, por favor.
4.Caro Dr. Supervisionador, não sei quanto tempo que tenho para escrever antes que eles voltem. Por favor me tire daqui, não aguento mais eles na minha cabeça.
Assinado Juarez Osório (CPF: o verdadeiro dono desse corpo).
terça-feira, 17 de maio de 2011
a memória dos peixes
Estrofe diária: deixa sonho dissolver com vida. Te antena mas não te apega nos corrimões dos gestos. Tá todo mundo assim, descalço e mendigando seilá o que. Esperança. Noite fiada com amor emprestado.
E olha só para ti, comédia pública, pílula de chilique, todo exibido, nariz turbina, mãos a desenhar castelos nos ares. Te escuta seu patético. Tu fala é bem assim “então ele fez café e ainda me serviu café!”, gira a essa tua careca pro lado avulso de público, e dispara olhares ao infinito cor azul, assim bem airjet “ele me perguntou se eu estava casado”, tu esbraveja, ignorando os calos, a corcunda da busca por misérias, “me sinto a gostosa, foi melhor noite da minha vida”. Os calos não são músculos, não precisa exercitar. Sacode, isso e esquece. Que nessa era não há mãe de santo que não enxergue sintoma. Nosso amor foi cheio para estourar rápido. O nosso amor foi a sombra de um vaso bonito, uma sobra que só nos aumenta quando escuro. E a ressaca, lembra, anos 80 e pés na bunda. Saí daqui. Deixa de cantinho um crédito de aventura. Nossas cruzadas, planejamentos uivantes se desfazendo nem um laço de sapatilha e você construindo pontes só presas de um lado. Vítima de hipótese de absurdo, mais uma dessas credores da lama. E as portas na cara, e os sonhos molhados, os caixões pré moldados, as fases azuis, anis de bordeis. Está tudo aí, no cantinho da bochecha, nas venesianas dos olhos.
Você olha para ele e pensa como será que irá me matar, logo que eu que na décima tentativa já parei de contar, você pensa, como será que ele vai me matar. Tão lindo esses olhos, no escuro são verdes, no claro dá medo de olha no fundo e não encontrar o fim. Você sabe. Planetas são presos sem se enxergar, todos sabem da fama do cabo das tormentas, todos sabem como é grande o lixo nas ruas no dia seguinte ao desfile de carnaval. Lantejoulas são percevejos. Mas não adianta. Agora já planeja ele inteirinho, férias no Líbano, cruzeiros e peças de teatro nômades – sempre com fundo terno e maquiagem de boneca.
Correio. Expediente das moscas. É dezembro percursor de finais, mas é imbatível, você não se rende – quer recomeçar. Quem é a roda pintada obdecendo o sistema dos muito sensíveis e pouco céticos? É você. Que assina planilhas e pensa. Um sofá, uma cama, uma rede, um chão. Que pensa manhã, tarde, de noite, madrugada. Juntos pela Castro Alves, tomando conta das melhores piadas e cantando dias calmantes. A o peito ralo, as falhas da barba cuidadosa. Reações a mudanças, reação á noite mal dormida. Carinhos matinais, espátulas de eu quero. Você imagina e excede o terreno reservado da compreensão. A vida gigante te levando de desbravador, assim, logo tu. Que recorre ao tempo para tira-macha, que aterrisa em pista molhada por ódio ao controle, que nessas tantas já´deve até ta cobiçando livros de história.
Não te ensinaram a vida só tira o que se carrega. O que de corpo importante dá alvo grande. É cabuloso a governança dos teus olhos amáveis ao que desobedece mas sabe amar no seu vernáculo, sabe tudo. Um sábado, uma semaana qualquer de tocha, de combustível negro, vem ao meu apartamento e chora. Arranhado por dentro, lava tudo com uma queda de água salgada que tem poder de marés a ilhar-me a razão. Não me pergunte porque. Aconteceu. Os dias estão todos submersos em exatidões, não se pode dormir em casa sempre. E continua. Fui tanto, fiz mil, só pra ele. Abaixei a cabeça, no mansinho do cinema, perdi a cena do bejo, para olhar o amor pelos olhos dele. Tantas vezes. Escureci cedo, tanto corpo, tanto gasto - quilômetros e quilômetros no seu interior, reunindo as perguntas que faltavam para ser meu todo meu. Você queria ver algo se acabar. Ascendo algumas velas, falo de Madalena, do que não deu no jornal, desconto tudo na barriga do pecado atrasado. Você mansinho atira e erra, porque mira com os olhos, diante ao nada. Escuta tudo feito pirâmide. Longos dedos segurando meus braços, rota de conforto, de confiança na natureza. Pego um inscenso, pego uma garrafa de vinho, pergunto – quer sair. Você quer o poder de uma pedra. Diz que não melhor seria, Dolores D., conhaque. Sólido, dentro de si. Sentir as rotas do sangue e se despacho pelo peito. Os cavalos fazendo sinfonia com os metais resultantes dos respiros dos pulmões. Abaixa a cabeça, entende que quer calor. O meu, só pra não errar, de novo. O meu, não um novo.
Era já um homem bonito, mas querendo se curvar as lerdezas. Me recitava sobre o amor de cantinho, citava Lorca, Wilde. Falava de tentação como quem risca o fósforo pela primeira vez. André Gide. Não me culpa pelos cubos de gelo: sabe, naquela época, que me protejo esvaindo. A solidão é uma manhã eterna e sem filtro, sol refletido no gelo. Conta de amor. Eu rio encharcada, uso seriedade para manter em segredo. Vejo uma criança. Brilhante por um desafio, uma queda, uma pequena mordida que o faria refém, de algo, de alguém, de um querer mansinho que conquista sem perceber, a sala, todos os móveis, vira a casa. Lembro de te ver, alegre daquela maneira era tão estranho e desculpa por dizer que era sim muito estranho sorridente, leve, saltialtos “isso vai passar”.
Eu entendo que você levante cedo todas manhãs, nunca tire a chaleira do fogo. Dói ver numa felicidade uma descida. Tu é leve demais pro ar. Passa mundinho passa. Mas não me fala de amor. Me mostra tua alegria, não me conta um triz. Não me conta de um dois.
Eu que já decorei os endereços dos quais tu importa teus pedaços, eu que com minha linha costuro as partes que faltam.
E olha só para ti, comédia pública, pílula de chilique, todo exibido, nariz turbina, mãos a desenhar castelos nos ares. Te escuta seu patético. Tu fala é bem assim “então ele fez café e ainda me serviu café!”, gira a essa tua careca pro lado avulso de público, e dispara olhares ao infinito cor azul, assim bem airjet “ele me perguntou se eu estava casado”, tu esbraveja, ignorando os calos, a corcunda da busca por misérias, “me sinto a gostosa, foi melhor noite da minha vida”. Os calos não são músculos, não precisa exercitar. Sacode, isso e esquece. Que nessa era não há mãe de santo que não enxergue sintoma. Nosso amor foi cheio para estourar rápido. O nosso amor foi a sombra de um vaso bonito, uma sobra que só nos aumenta quando escuro. E a ressaca, lembra, anos 80 e pés na bunda. Saí daqui. Deixa de cantinho um crédito de aventura. Nossas cruzadas, planejamentos uivantes se desfazendo nem um laço de sapatilha e você construindo pontes só presas de um lado. Vítima de hipótese de absurdo, mais uma dessas credores da lama. E as portas na cara, e os sonhos molhados, os caixões pré moldados, as fases azuis, anis de bordeis. Está tudo aí, no cantinho da bochecha, nas venesianas dos olhos.
Você olha para ele e pensa como será que irá me matar, logo que eu que na décima tentativa já parei de contar, você pensa, como será que ele vai me matar. Tão lindo esses olhos, no escuro são verdes, no claro dá medo de olha no fundo e não encontrar o fim. Você sabe. Planetas são presos sem se enxergar, todos sabem da fama do cabo das tormentas, todos sabem como é grande o lixo nas ruas no dia seguinte ao desfile de carnaval. Lantejoulas são percevejos. Mas não adianta. Agora já planeja ele inteirinho, férias no Líbano, cruzeiros e peças de teatro nômades – sempre com fundo terno e maquiagem de boneca.
Correio. Expediente das moscas. É dezembro percursor de finais, mas é imbatível, você não se rende – quer recomeçar. Quem é a roda pintada obdecendo o sistema dos muito sensíveis e pouco céticos? É você. Que assina planilhas e pensa. Um sofá, uma cama, uma rede, um chão. Que pensa manhã, tarde, de noite, madrugada. Juntos pela Castro Alves, tomando conta das melhores piadas e cantando dias calmantes. A o peito ralo, as falhas da barba cuidadosa. Reações a mudanças, reação á noite mal dormida. Carinhos matinais, espátulas de eu quero. Você imagina e excede o terreno reservado da compreensão. A vida gigante te levando de desbravador, assim, logo tu. Que recorre ao tempo para tira-macha, que aterrisa em pista molhada por ódio ao controle, que nessas tantas já´deve até ta cobiçando livros de história.
Não te ensinaram a vida só tira o que se carrega. O que de corpo importante dá alvo grande. É cabuloso a governança dos teus olhos amáveis ao que desobedece mas sabe amar no seu vernáculo, sabe tudo. Um sábado, uma semaana qualquer de tocha, de combustível negro, vem ao meu apartamento e chora. Arranhado por dentro, lava tudo com uma queda de água salgada que tem poder de marés a ilhar-me a razão. Não me pergunte porque. Aconteceu. Os dias estão todos submersos em exatidões, não se pode dormir em casa sempre. E continua. Fui tanto, fiz mil, só pra ele. Abaixei a cabeça, no mansinho do cinema, perdi a cena do bejo, para olhar o amor pelos olhos dele. Tantas vezes. Escureci cedo, tanto corpo, tanto gasto - quilômetros e quilômetros no seu interior, reunindo as perguntas que faltavam para ser meu todo meu. Você queria ver algo se acabar. Ascendo algumas velas, falo de Madalena, do que não deu no jornal, desconto tudo na barriga do pecado atrasado. Você mansinho atira e erra, porque mira com os olhos, diante ao nada. Escuta tudo feito pirâmide. Longos dedos segurando meus braços, rota de conforto, de confiança na natureza. Pego um inscenso, pego uma garrafa de vinho, pergunto – quer sair. Você quer o poder de uma pedra. Diz que não melhor seria, Dolores D., conhaque. Sólido, dentro de si. Sentir as rotas do sangue e se despacho pelo peito. Os cavalos fazendo sinfonia com os metais resultantes dos respiros dos pulmões. Abaixa a cabeça, entende que quer calor. O meu, só pra não errar, de novo. O meu, não um novo.
Era já um homem bonito, mas querendo se curvar as lerdezas. Me recitava sobre o amor de cantinho, citava Lorca, Wilde. Falava de tentação como quem risca o fósforo pela primeira vez. André Gide. Não me culpa pelos cubos de gelo: sabe, naquela época, que me protejo esvaindo. A solidão é uma manhã eterna e sem filtro, sol refletido no gelo. Conta de amor. Eu rio encharcada, uso seriedade para manter em segredo. Vejo uma criança. Brilhante por um desafio, uma queda, uma pequena mordida que o faria refém, de algo, de alguém, de um querer mansinho que conquista sem perceber, a sala, todos os móveis, vira a casa. Lembro de te ver, alegre daquela maneira era tão estranho e desculpa por dizer que era sim muito estranho sorridente, leve, saltialtos “isso vai passar”.
Eu entendo que você levante cedo todas manhãs, nunca tire a chaleira do fogo. Dói ver numa felicidade uma descida. Tu é leve demais pro ar. Passa mundinho passa. Mas não me fala de amor. Me mostra tua alegria, não me conta um triz. Não me conta de um dois.
Eu que já decorei os endereços dos quais tu importa teus pedaços, eu que com minha linha costuro as partes que faltam.
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