Os três se chamavam Raul. O pai nunca perdoou a mãe por ter dado aos filhos o nome de seu primeiro amante. Rafael, ele está morto, morto, Rafael, dizia ela nas poucas vezes que tocaram no assunto. Rafael tinha lá suas dúvidas. Nunca viram o corpo, nunca viram um documento, nunca falaram com alguém da família para saber se havia ou não ido para o depois da vida. Como se sabe se um morto se foi realmente? Depois do trabalho gostava de ficar na rede, tomando café, observando os meninos brincarem. Gostava muito do mais novo, tinha seus olhos, o chamavam pelo apelido de Zinho, para não confundir. O do meio era Rá, nem o deus egípcio do sol, e o mais velho, Raul mesmo. Por um tempo, pensou de tentar uma próxima gravidez, talvez viesse uma mulher. E aí botaria o nome de sua mãe, não de outra mulher porque nunca houve mulher como Sônia, Sônia sempre foi única, e também, tampouco é vingativo. Mas a ideia de dar a luz a mais um Raul no mundo o dava coceira nos ossos. Por dentro. Ao longo que as crianças iam crescendo, ia atrás das antigas fotos do Raul, o verdadeiro. Comparava seus rostos, suas simetrias. Talvez Sônia tivesse tentando recolocar Raul no mundo, a partir de sua própria barriga, vai saber. Talvez ele fosse apenas um meio para isso. Aos amigos dizia que Raul era o nome de seu avô e o nome dos meninos era promessa antiga. Com promessa não se brinca. Só sua família sabia a verdadeira história que o cartório não conta. Os irmãos riam de sua cara, a mãe sentia pena, sabia o quanto sofria. É só um nome, ela dizia, tentando espantar o resto dos familiares. Tu és o pai dos Rauls e isso é tudo o que importa, eles te obedecem, te adoram e te seguem. E isso é tudo. Este comentário da mãe o trouxe uma nova perspectiva. Desde desse dia o rancor se transformou em uma forma diferente de carinho com o falecido, uma outra filiação. Sentia-se o rei dos quatro, de todos os Rauls.
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