terça-feira, 7 de novembro de 2017
os objetos
como acreditar em uma xícara? o pão vai na boca, antes, vai no prato. o café vai no coador depois vai na cabeça. tomar o café da tarde significa prestar continência ao café da manhã, significa marcar de chegar atrasado ao início da noite. uma faca corta, mas amacia, a manteiga. a manteiga já foi gordura de porco, o porco morria gritando, hoje, uma pistola de ar é mais rápida do que o piscar de olhos. os olhos do porco nas bolhas de café. o café da manhã no café da tarde como um trilho, nos abrindo. como confiar em uma xícara? diz minha tia. tudo pode desaparecer. uma xícara, de porcelana ou vidro, pode sumir ao ser erguida entre o dedo e os lábios. o café nunca. o café manha diz minha tia. seus dentes são amarelos. está estampado na sua cara e não há vergonha nisso. os objetos, como confiá-los. eles se quebram. desaparecem mas não se vão. assim como os ossos. embaixo do tapete, cravado na sola do pé. de surpresa anos depois entre as plantas do jardim. o café lava o cálcio, o potássio, é diurético. minha tia mexe a xícara muito devagar, coloca mais fatias de pão do que come em cima da mesa. este come com a mão, embalsamando uma ligeira tranquilidade.
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