sábado, 4 de maio de 2013

o poema que você não escreveu para ela, eu tomei a liberdade de

história real
a gente ouve uma voz
o som de uma pessoa
como pode
o som de uma pessoa
a gente não para de ouvir
vai a pessoa
fica a voz
sem corpo
assombração na merenda
calo no ouvido
quando vai a pessoa
a gente fica surdo
confundindo a ordem
das chegadas e partidas

depois do acidente
sua voz virou formato
de grito
não consigo mais dormir
minha mulher reclama
que falo pouco
 tenho medo que
minha última voz
também seja um grito

(sinto muito que tenha doído tanto)

antes só quem parava ela
(a sua voz minha querida)
era o vento carinhoso
com nossa certeza de
todo o mundo agora

mas o agora nos traiu
tão forte
aquele ônibus
o movimento
a batida

só confio em futuro que esteja no plural.

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