Um dia de sorte poderia ser, daqueles que cumpre as linhas da agenda, sem sair da margem e fazer borrão. Um dia em que as poças de água simplesmente evaporam antes de você as pisar, a chuva da noite anterior não preparou nenhuma surpresa para suas botas italianas, e os pivetes da rua tem pena de pedir dinheiro para você, que não ganha mal, mas nessas ocasiões sempre finge que não ganha é nada. Um dia em que os ônibus aumentam suas frotas, e os passageiros se mostram muito bem perfumados, em que Dona Nadir,síndica do Prédio consegue redigir uma frase à você, sem mencionar o aluguel. Um dia de sorte seria se o antidepressivo do seu chefe finalmente fizesse efeito, trocando as conversas enfaticamente altas, por batidinhas nas costas companharescas no inicio do turno. Num dia de sorte, o seu provedor teria um surto de perseguição pela verdade e transparência, decidindo cumprir todas as vantagens informadas na sua publicidade persuasiva. Num dia de sorte, a atendente do café não se sentiria na intimidade de escolher a quantidade de açúcar no seu café, num dia de sorte os celulares, seria carregados pela energia cinética dos incessantes tombos no chão, e as chaves jogariam Marco Polo com você, sempre que não estiverem no seu bolso. Num dia de sorte, os jornais não servirão apenas de artifício, esconderijo de anti-sociais quando avistam alguém conhecido no trem, como também dará notas realmente relevantes, do tipo: você precisa reconhecer sua roupa na Lavanderia depois das 19h. Num dia de sorte, seu cão herda características por observação, dos felinos domésticos, na hora de defecar. Um dia de sorte, é quando o celular adquire o nível de inteligente e percepção necessário para se alto silenciar, logo que você chega na aula de Direito Constitucional. Um dia de sorte é quando os fumantes se tornam egoístas o suficiente para não dividir a fumaça deles, com as suas narinas na parte de dentro da lancheria. Um dia de sorte é quando no final do campeonato as pessoas decidem ver o jogo no conforto das suas casas, juntos à família, do que aglomerados a desconhecidos em um transito que não transita.
Mas para ele, mal adiantava um dia de sorte, se num minuto falasse uma besteira que a fizesse perder o jeito, se em um reflexo pouco processado, a fizesse as covinhas distantes do seu rosto aparecer menos e menos, se não conseguisse achar o instrumento certo para mexer com ela, toca-la, prender e orquestrar aqueles olhos.
E ele a olhava rindo, molhado da chuva que caiu agora, cansado do tempo perdido no trafego, com suas botas novas embarradas, cheirando a cigarro e todo azar que respira o mundo , pensa tão alto que nem vê que diz de tanto que sente:
“ - Que sorte ”
Um comentário:
Uma certeza
Postar um comentário