sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Encontro

Queria colo e fazia isso calada. Nas caladas da noite que promete manter em segredo, lábios serrados, mas que quando se faz dia grita aos montes para ser lembrada.Naquele dia seu silencio devia estar dizendo alguma coisa.Por que motivo mais, ele tomaria sua expressão como fala? E serviu melhor o copo, e chegou em sua frente com o mistério dos que chegam a primeira vez.

“Está sozinha” – Disse o homem.

“Nós sempre estamos sozinhos.” – Respondeu a mulher.

Denunciou que tinha aparado suas garras de vida, ainda: “Principalmente em nossos sonhos. ”

E ele riu torto, como quem não sabe onde esta se enfiando enfiou a boca no copo de vidro, bebeu um gole para matar não a sede, mas a vergonha. Deu-a o prazer do seu silencio, que a ela, aproveitou muito bem tentando desdobrar as expressões de seu rosto para encontrar seus verdadeiros papeis. Por um instante, o homem elegeu uma frase e resolveu conseguir bem mais que uma resposta:

“E qual é o seu sonho?”

Sem se importar em ter êxito ou não, ela não hesitou. Muito menos confundiu álcool com verdade, mentira com desejo. Mostrou, a sua carne, onde se enfraquecia, e disse:

“Não ficar mais sozinha”

E ele riu tão bonito que a mulher pensou, era para convencê-la, estar num sonho.
Naquele dia ao chegar em casa, a mulher ficou com medo de dormir e acordar demais. Deixou sinais da realidade daquela noite, ao entrar e esbarrar em tudo ao mesmo tempo, colocando Kaki King para tocar, fez musica sem letra ela também, enquanto para não cair, segurava-se no que resistia ao seu redor, deixava cair o abajur, o auto-retrato de Don, o livro que não conseguia se livrar que Gil a emprestou para convencê-la que realismo mágico não presta. Pensar naquele homem, do que se preenchia , o que seus olhos seguiam e gostava de cegar, foi a despedida dos seus abertos .

Enquanto a fila do café desfilava pro fim, pensava ela em um possível começo. Naquele dia entrou naquele bar não para achar algo, mas porque tinha perdido alguma coisa. A fé, cabeceira da vontade, talvez. A bebida tinha lhe convencido que ela precisava ser tomada, derramada por alguma investida do acaso. Algumas cervejas e ela se tornou alegre, simplesmente por não precisar de motivos para se alegrar. Desafiou aos presentes, surpreende-la com uma conversa boba, o que não esperava era ser embrulhada a tal ponto de não saber o que fazer. Por que bem sabia ela que se estava sozinha, era porque ter alguém não desmerecia essa condição, só piorava. E muito sabia ela, dos sonhos que desviou nas curvas da vida que foram bem para onde ela queria. E ao contrário do que Gil acha, o realismo mágico não só presta como empresta lição de vida, de que às vezes o que não faz sentido pros outros, é todo o sentido pra que sente. Quando o homem desatinou a combinar as palavras bem do jeito que ela gosta, viu que já nisso havia um par. E quando o homem deixou notar um certo cuidado em escutá-la sempre com o melhor ouvido, ela perdera-se completamente. Por que, nada sabia quem era, um amor de cabine, uma figura paterna nunca antes presente, um amigo de conversas no parque, um imitador de tudo que ela se julgava original. Já pelo fato de ser outro dia, e não pensar em problemas dela e nada mais, sentia, já não estava mais sozinha.

Tinha o amado por todos os homens que não a amaram certo, em uma noite. Por que afinal, ela torcia por uma desculpa, para que seu beijo fosse ilegível, e seus braços longos demais para se satisfazer no seu corpo, mas quando o suor demorou a passar ,a respiração desacelerava na medida em que os braços do homem, braços que ainda não sabiam de quem ou pra quem era, apertavam-na, querendo-a, ficava difícil encontrar motivos.Naquela cama, aqueles dois ela também não saberia dizer quem eram, muito menos o que seriam, se seriam. O que sabia apenas, e tinha a maior certeza do mundo, é que naquela cama e naquela hora, haviam duas pessoas, sem medos, juntas, e principalmente: sonhando.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Um dia de Sorte

Um dia de sorte poderia ser, daqueles que cumpre as linhas da agenda, sem sair da margem e fazer borrão. Um dia em que as poças de água simplesmente evaporam antes de você as pisar, a chuva da noite anterior não preparou nenhuma surpresa para suas botas italianas, e os pivetes da rua tem pena de pedir dinheiro para você, que não ganha mal, mas nessas ocasiões sempre finge que não ganha é nada. Um dia em que os ônibus aumentam suas frotas, e os passageiros se mostram muito bem perfumados, em que Dona Nadir,síndica do Prédio consegue redigir uma frase à você, sem mencionar o aluguel. Um dia de sorte seria se o antidepressivo do seu chefe finalmente fizesse efeito, trocando as conversas enfaticamente altas, por batidinhas nas costas companharescas no inicio do turno. Num dia de sorte, o seu provedor teria um surto de perseguição pela verdade e transparência, decidindo cumprir todas as vantagens informadas na sua publicidade persuasiva. Num dia de sorte, a atendente do café não se sentiria na intimidade de escolher a quantidade de açúcar no seu café, num dia de sorte os celulares, seria carregados pela energia cinética dos incessantes tombos no chão, e as chaves jogariam Marco Polo com você, sempre que não estiverem no seu bolso. Num dia de sorte, os jornais não servirão apenas de artifício, esconderijo de anti-sociais quando avistam alguém conhecido no trem, como também dará notas realmente relevantes, do tipo: você precisa reconhecer sua roupa na Lavanderia depois das 19h. Num dia de sorte, seu cão herda características por observação, dos felinos domésticos, na hora de defecar. Um dia de sorte, é quando o celular adquire o nível de inteligente e percepção necessário para se alto silenciar, logo que você chega na aula de Direito Constitucional. Um dia de sorte é quando os fumantes se tornam egoístas o suficiente para não dividir a fumaça deles, com as suas narinas na parte de dentro da lancheria. Um dia de sorte é quando no final do campeonato as pessoas decidem ver o jogo no conforto das suas casas, juntos à família, do que aglomerados a desconhecidos em um transito que não transita.
Mas para ele, mal adiantava um dia de sorte, se num minuto falasse uma besteira que a fizesse perder o jeito, se em um reflexo pouco processado, a fizesse as covinhas distantes do seu rosto aparecer menos e menos, se não conseguisse achar o instrumento certo para mexer com ela, toca-la, prender e orquestrar aqueles olhos.
E ele a olhava rindo, molhado da chuva que caiu agora, cansado do tempo perdido no trafego, com suas botas novas embarradas, cheirando a cigarro e todo azar que respira o mundo , pensa tão alto que nem vê que diz de tanto que sente:

“ - Que sorte ”

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Homenáge

Penso em ti meu caro meu barato meu alguma coisa.
O que é atemporal, também faz chover e resfriar .
Muito jazz nos quadris
Será, imagino
Não só batida nesse samba canção
E do amor que não tem nome
Já deu-lhe uns rostos, umas maquiadas
Paz não pode ser ausência
A sede é grande pelas pequenas
Ta desafinado sonâmbulo
Maldormido personagem de teatro absurdo
Andado de constas olhos fechados
Andando ou sendo levado
Tem mão na tua mão
Riso de lembrete, na geladeira
Tá de canto, cantando em coro
Arrisca e deixa a janela aberta
Promessas o vento não leva
Quem come o dia é bem vindo a noite
Lágrima lá não lava
Aqui queima mas aquece
Não esquenta, o sonho sempre cai bem
O sonho até quando é de bem, cai
Perigo: quando um desses vai-se
O que pode ficar é tudo menos sono
Quem ama as vezes não tem respeito
Peito que sente fala por outras bocas
Teus gritos
Desafinados?
Corda muito em Mi
Não faz acordar com sol valendo pena
Tantas vidas numa que passou agora
E na garota de outra ora que não percebe mas
Relogios nunca param
Naquela casa no campo
Um tanto do que ainda há por vir e não perece
Tu disse, ressonancia cafeinada
Palavras em recem condicional
Patricia vendia jornal e tu disse:
- Nós somos diferentes
me prendeu sua surpresa:
- não te cansa
e eu me torno a pensar
com olho de tornado querendo desfazer confusão
que ‘nós’ nunca serão singular
que o que nos prende so a gente sabe
e esar suspenso, é preciso
e não suspende o alivio
postumo
escvre um livro mais nunca te livra
só a gente sabe que filme bom
se faz na rua.
Qualquer duvida, pergunta pra canerta que ela responde.
O mundo é papel


Tua partitura não parte,
Mais barulho que musica nesses anos em 19.