A pobre sequer degustou o prazer do entendimento. Foi depois de uma reunião, sobre a campanha de uma empresa nova de palmilhas para tênis de atletismo. O moreno de rosto limpo e pele macia, pôs-se a sua frente, e começou a praticar barulhos; abaixou as janelas, trancou as portas, sapatiou no piso na esperança de se acalmar, e assim, com o peito a salpicar a camisa e as mãos a acharem lugar na testa de expressões exageradas pela primeira vez, disse numa rapidez estonteante “queria avisar que não posso aguentar isso, tem que acabar agora, esses olhos, não posso com esses castanhos”. E amenina de longos cabelos pretos, plano de fundo de mundo a construir, foi aí, que a graciosa abriu mais aqueles castanhos fogaréis circulares e não os desviou até que pelo menos sentisse que veria uma resposta, que no caso não veio assim pelo mesmo modo que a dúvida, através das palavras, mas sim por uma sensação viril e temida, que começou entre os braços foi desvanecendo até encontrar o limite dos pés com o chão. Lembrou de que, a semanas atrás prestava mais atenção no homem, único homem a usar gravata naquela agência, que estranho, tão moço e sem necessidade, quando se botava a pensar nos vôos dos segundos, quando percebia estava a delinear o rosto dele com as próprias vistas, assim sem perceber ou querer, apenas dando aos pensamentos a característica das velas em alto-mar, recordou que mesmo que seus turnos não coincidissem, o via diariamente nas memórias de encontros casuais no café, em entabulamentos no estacionamento e coisas do tipo, momentos em que nada falaram até porque não tinham o que falar, e mais até, fugiam dessa troca de vocabulário. Agora ele desapertava a gravata, pois tinha medo do nervosismo que mancha, a camisa, a pele, o tempo, e olharam ambos para o chão. A jovem, já entendida, deu a ele a concordância desejada “também não tenho tempo para desvios, quero viver tranquilamente sem alguém que fique dentro de meus pensares a dar expectativas, não posso continuar a ter que corresponder a altura de teus olhares”, e logo sentou-se, assustada do que acabara de falar, vindo de lugar que desconhecia, pasma estatuou-se. O moreno surpreendido, porque palavra praquilo tudo não tinha escolhido antes, e as ditas, lhe pareciam sem sentido, mas por natureza desconhecida as dela o faziam algum sentido, por um instante ficou aliviado e imaginou borboletas a decorar a sala e um refresco a acobertar o corpo. “Pois bem, está combinado, vamos parar por aqui”, “Claro, acho melhor, é o que mais queremos”, “sem nervos tensionados e respiração abreviada”, “sem olhadas inesperadas, sem porque através dos arquivos”. Fartos de tanto comprometimento mútuo, felizes estavam ambos. Tanto é que no ato de selar aquele acordo, deram-se as mãos imediatamente, ato que fez o sorriso antes selado no rosto amolecer vagarosamente, pois, coisa que o moreno não tinha pensado, é que ela entendeu completamente, coisa só possível se ela sentisse o mesmo completamente, coisa que só é possível, se aquela fascinação não fosse só dele apenas, mas daí já era demais, quando ambos perceberam isso, as mãos já tinham ido ao encontro uma da outra, e na pele sem distância, nenhum sucesso teriam em tentar afastar um problema bem menor, que era o instinto dos olhos.
De volta a escassez das palavras, foram pegos.
De volta a escassez das palavras, foram pegos.
Um comentário:
Narrativa intensa, hein? Tá bem do jeito que gosto de escrever.
Estonteante!
Um abraço.
P.S.: Tô voltando a ativa dos blogs. Acessa http://lorencooliveira.blogspot.com/ tem um fluxo que fiz agora pouco.
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