quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Desencontro

Ela disse que as pessoas ficam bonitas em anúncio de despedida, mesmo que com muita linha e pouco linho, que as pessoas sempre ficam bonitas quando vão embora. Ele disse que as pessoas não precisam ler tudo que vêem, nem sair da linha nem ir embora para ficarem bonitas, e também, que gostava muito da palavra sempre, e pediu para ele ser mais claro nelas.E, tem mais, tudo soa como um cigarro bem fumado ido com tudo levando o ar da reserva de vida. Ela lembrou que ele dizia com a franja que o vento brincava aos rodopios azarados, que para o ônibus chegar na parada bastava ascender um malboro, porque segundo ele o mundo cisma mas não bate, de fazer careta torta quando todo o mais está bem e todo o mais estava bem porque eles estavam juntos naquela parada e agora é a franja dele que brinca com os ares dela. Ele ainda de pé percebeu, que ela podia ir embora até dali mas nas outras casas preenchia com afinco, quando tentou desviar os olhos mas tudo que viu foi os dela. Mais uma tentativa e virou o pescoço, perdera cabeça, a sétima naquela semana, E quando a fez mexer-se involuntária, arranjou desculpa de teste de realidade boa demais em andamento.
Mordeu os lábios porque não eram mais os lábios dela.Deixou cair os olhos como se pedissem vaga para a terra que finge ser firme mas acoberta e esconde.Ela explica ainda aquele papo batido reprisa, de que as pessoas as boas não morrem nem deixam o peito oco para a solidão bizonha bater e faz barulho acordar aquela parte do mundo que bem poderia dormir para sempre. Ela duela com tudo, com o tempo crava dentes ao mesmo que firma a frase de que o tempo de se contar o tempo já passou.Depois ela mudou de assunto como se não servisse no corpos dos dois ao mesmo tempo alma e disse aflita só crendo pra ver que algumas pessoas as certas não morrem porque uma coisa chamada memória não deixa.E essa é a sua deixa.Mas não a dele. Agora resolveu escalar mais verdade em conversa, disse que não conhece para esquecer, e quem vai embora é pra chegar em outro lugar. Com as vistas de peão, olhava para todos os lados sem ver, menos pro dela, justo o que lhe dava corda. Ela disse que se faltava-lhes pés para ir, ele estava livre para arranjar qualquer corpo à deriva nessas vidas de homens solteiros. Ele disse que mesmo se quisesse não conseguiria, que só ela o ater-se a ser homem, que nem todos os corpos incorporam o dele, como o que ela carrega. Ele pergunta com sobrancelhas saturadas de gravidade miradas ao solo, que se faltou aperto de mão, ele faria um esforço, se faltou amor ele tem uma despesa cheia. Ela diz que não faltou nada, que ela leva esse amor seja na hora de tomar banho ou discutir com seu coordenador de curso. Que o problema ela joga os olhos na parede como se procurar disfunções em construções fosse seu hobbie mais saliente, e repete que o problema era que sem onda e vento forte ela não chega a lugar nenhum. Ele diz que compra um barco, e olha para a parede procurando entender o que há de errado com a parede. Ela fala que o problema na é esse até porque, nem dirigir ainda dirige, mas sim que ela o ama tão fácil, que só o amá-lo bastaria para viver.Ele entorta o rosto com expressões de ponte entre as extremidade, e diz como voz que nem sabia que existia ali dentro, vai te fuder então. Ela pede para esperar, enquanto ela grita espere, sentindo a imagem das suas costas não estar nunca mais ao seu alcance, e ele agradece pela lição de vida com tema de burrice, agradece por ter ajudado-o a finalizar o diálogo restante do seu livro, e diz pra ela avisar em qual puteiro ira trabalhar que ele não o que ver é nunca mais.

Reencontro

Naquele dia resolveram se encontrar sem marcar hora nem lugar, sem fazer concessões ao mal tempo, ao acaso frouxo, a soberania do caos urbano.Decidiram se encontrar sem eles mesmos o saber, acharam-se os olhos entre a sessão de vegetais do mercado central, seguiram-se até a sorveteria na ala b, e só desencontraram-se, quando ambos o fecharam em sintonia ao longo de um abraço com vida própria que durou o tempo exato de sentirem falta desse encaixar de corpos.ela perguntou da vida ele disse que já gastava muito tempo nessa fala mansa de viveres e desviveres e o que queria saber mesmo agora era da onde vinha aqueles cabelos curtos, e aquele olhar telescópio que parecia enxergar tudo. Ela respondeu rindo que o cabelo não veio, mas foi, foi junto com o apartamento no Bom Fim, e as vizinhas maconheiras de terceira idade, foi junto com os sonhos nada comestíveis de um amor perito em carne e charmoso no papel, foi junto com os tropeços nos móveis inúteis que mobiliou a sua vida, essa antiga, que assegura ela, já foi. Ela diz que ele também estava muito diferente, parecia um Gatsby relançado dentro daquelas roupas, e teve medo que seu olhar caminha-se para a pretensão de um Bourboun.Perguntou se lia, se li, o que escrevia, se escrevia o que via, se via o que falava.Ele disse que as pessoas só liam e viam para ter o que escrever, só escreviam para ter do que falar, e que sim, como ainda se considerava uma pessoa embora meio acomodado nas rachaduras dos anos, conquistou com bandeirinha e tudo a crônica, na terra arenosa que à gastos fazia alguma ou outra poesia murcha.Ela disse que não importava o que ele via, lia, ou falava, mas tinha que parar agora mesmo, e falou um nome esquisito de um livro chinês antigo que ele não entendeu mas desviou os olhos com um famoso “hãa” e boiando em um pensamento, de que sobre isso tudo que sabia era alguns filmes do besouro verde, do Bruce Lee, que vira quando mais novo. Os dois sentaram-se a um café como desconhecidos que apontam-se mutualmente, como se aquele filhete de passado que os unia, só servisse para os machucar.Aos poucos ela reconhecia aquele homem de contornos seguros, sem um traço fora da linha, de sorriso barril, que embebedava a todos quando conquistado. Ao pouco ela separou do perfume que ele usava o cheiro das manhãs de julho quando brigavam para não sair das cobertas. Aos poucos ele via nela, a vista que antes morou, lembrou como via o mundo de cima na altura daqueles olhos. Pensou naquelas poesias arenosas que as vezes encontravam uma praia, pensou nos envelopes cheios dela que deixou de entregar, e agora se assemelham a verdadeiros tesouros no fundo do mar.Ela sorria mais que o normal, e seu riso ia ao chão de tão forte, e ele balançava-se aproveitando as nuances do papo para aportar na sua pele.Pareciam estrangeiros sem farda por fora, e tinham curiosidade se isso continuava por dentro. De alguma forma ainda sentiam-se um pouco um do outro. Seja na hora de fazer um café para trabalhar, desatar uma briga com empreiteiro, seja nos seus posicionamentos liberais políticos defendidos a palavra e gritos, ou na hora de comprar um disco francês em algum brique. Queriam falar das revoltas que colocaram em cabide, das importâncias que fugiram se mala, dos giros da vida que não deram em vôo sustentável, das exposições dos modernos que iam para rir e comer canapé, dos santos caídos, dos seus heróis que perderam a capa, e a fascinação das rimas, da viagem aos Estados Unidos que mais pareciam uma ida a Hong Kong.Foram surpreendidos pelo garçon que trazia seus pedidos, um capucchino para ela, e um expresso duplo sem chantilly, que aliás, veio com chantily, e não somente, veio com isso como também uma seqüência de palavras ordenadas de maneira prejudicial a saúde do emprego do garçon coitado, esse escondido em meio dos próprios ombros enquanto, ele o criticava severamente em tom de chamar a atenção dos estranhos no local, tudo por causa de um bendito chantilly, pensava ela que coisa mais besta.Então ela lembrou de coisas bestas e começou a ficar irritada com aquela cena, ela que sempre defendeu os trabalhadores ingênuos, e não suportava já antes aquelas escamas burguesadas dele, ainda mais agora dentro daquele terno saído do romance de Fitzgerald, pediu para ele parar. Ele interrompeu seu discurso, e a olhou, e logo ressurgiu, a apaticidade com os julgamentos superficiais dela, a bagunça do guarda roupa e incrível desorganização com seus pertences que acabavam sempre despertencidos, suas crises de pânico, suas discussões sobre Matisse e Picasso que acabavam em greve sexual e artística, seu apego exagerado por filmes lentos de países pobres, sua irresponsabilidade com eletrônicos, sem contar as viagens ao interior na casa dos mais dela em que voltava sempre com uma alergia externa nova. Aos poucos ela foi lembrando do barulho de bomba V2 que dormia com ela enquanto ela tentava pregar os olhos sem tem as olheiras, da sua inflexibilidade com horários, da forma desastrosa que tratava seus amigos do teatro, dos seus CDs do Cat Steveans, que ela jurava não entender, do ciúme virulento contra seus amigos autroproclamados homossexuais, da metricidade que defendia na poesia, nos julgamentos,das doses de cerveja que terminavam com doses de uísque que terminavam, bem nem ela lembrava no que que terminavam. Enquanto tentavam respirar algum ar puro sem teia de aranha ela disse:

-Agora só falta dizer que Borges é Melhor que Machado e Pound é melhor que Eliot.

E tenham dito, foram embora do café cada um para seu lado, nem trocaram telefones. Os números, esses também, eram os mesmos.