perambulava pelo mundo há tanto tempo, tirando fotos da Cabul devastada, se apaixonando por mulheres erradas na Trícia, e agora não lembrava onde esteve primeiro.
seus pais moraram em Hamburgo um dia, mas ele não sabia do depois, seus principais documentos se perderam ao ter de sair por uma emergência do navio Del Ganda, no mini acidente de 94. de qualquer forma, não acreditava nos papéis estatais, como sua cidadania lituana, sendo que nunca conheceu os avós.
naquela noite foi muita a cerveja escura, a mesma cerveja que por pouco não transformava nossos pulmões em negros aquários, como imaginava a cada copo. o homem ficou triste quando deu-se conta do que passava. não lembrar do início pode ser traumatizante e por um tempo foi - ele chorou no meu rosto o que poderiam ser lágrimas de trauma, mas era de fermentado escocês mesmo. ou, pode ser engraçado: terminada a cena preencheu os restos das horas rindo largo, por todas as sobras.
era um homem loiro, como muita barba, um tipo que sabia apostar. depois de uma semana viajaria para o Chipre à trabalho, trabalho é claro que encontraria depois de chegar.
acho que dormimos juntos porque caímos no mesmo lugar. por um momento, experimentei essa sensação de começo de impossível acesso. do controle. de não ter nada antes de mim. em nossa proximidade a condição dele me vazava pelos caminhos do pescoço.
essa sensação de tábuas soltas, embaixo da cabeça, pó de noite, uma goma de mascar gravada na nuca e as costas tortas como se tivesse saído de um barril.
acordei sozinho no chão. ele já tinha ido, nunca mais o vi. no outro dia tive que ir ao cabeleireiro. era a primeira vez que raspava a cabeça.
acordei sozinho no chão. ele já tinha ido, nunca mais o vi. no outro dia tive que ir ao cabeleireiro. era a primeira vez que raspava a cabeça.