segunda-feira, 18 de abril de 2011
Trecho "Passado numa sala"
“Amei Afonso porque nele nada gostava e nada concordava e nada dávamos certos, porque brigávamos no primeiro café, e no último biscoito, porque nos amávamos em todo lugar, e era ele o único que sabia lidar com meus distúrbios sintomáticos de perda de identidade de oscilação ideológica, que me chamava de louca, seguido de, é disso que eu gosto.Amei Cler porque ela dizia me amar, e aos poucos via muito, me sentia grande e ela com os únicos braços capazes de me confortar, de rir do meu sem graça, de botar graça nos dias sem piada.Amei Jaime pela sua cabeça, e Túlio pelo seu corpo, amei os dois por curiosidade e vontade cedida pela bebida e sei lá mais. Amei Marcos por que até ele eu não sabia qual a graça de ter uma cabeça sem perdê-la porque antes dele não amei nem a mim mesmo, porque foi o primeiro que jurei ser o último.Amei Júlio porque eu nada era, a não ser os desencontros que me moldava e penduravam na parede à venda, amei pelas suas cartas derretidas seu humor contido, seu peito inflamado, pela sua arte, pela arte que me fazia e fugia, amei Penélope porque fugia de mim e me queria ao mesmo tempo como nunca vi antes, porque tive de conquistar cada parte do corpo, e ao chegar no seu coração o meu já estava a tempos tomado.”
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